25 October 2013

A maldita influência da Moda Política praticada além fronteiras



[Por António Moniz Palme]
   Portugal sempre foi muito atreito às modas seguidas nos outros países. E não foram só as modas dos gibões, dos penteados e dos costumes sociais. Na verdade, tal como a altura das saias, o portuguesinho foi sempre sensível e volúvel aos costumes e usanças políticas que se praticavam na vizinha Castela, nas terras da Flor de Lis e até na “Loira Albion”.
   E o copianço indiscriminado das modas, através de séculos, levou infelizmente Portugal ao atoleiro onde nos encontramos. Essa é que é a triste verdade.
   A primeira tentativa de ataque dos usos políticos estrangeiros na Lusitânia, foi provocada pelas rabanadas de vento do Feudalismo que grassava por toda a Europa. Felizmente, os Reis das Primeiras Dinastias tiveram a sensatez de reservar para si a tutela dos interesses da colectividade, não abdicando dos seus poderes e não facilitando a criação de potentados senhoriais. Em conclusão:- Não toleraram a entrada no reino das modas vizinhas. Assim, em vez da administração do Poder Real se apoiar nos grandes Senhores do seu Território, apesar da gratidão pela sua imprescindível ajuda na Reconquista, foi-lhes sempre tirando todo o tipo de competências de carácter político, sendo entregue a gestão da coisa pública a súbditos que, embora da nobreza, ou do clero ou do povo, não pertenciam aos importantes e fortes Senhores do Reino. Na verdade, os governantes não eram escolhidos entre os Condes Portucalenses, embora fossem amigos íntimos dos Monarcas, como era o caso de D. Ermígio e de D. Egas Moniz, dos Senhores de Riba-Vizela, dos Senhores de Riba-Douro e dos Braganções. A Coroa fez-se escudar pelas Ordens Militares e pelo Povo, através dos Forais e das diferentes Corporações de Artesãos. A Liberdade e a Autonomia Local foram mantidas pelo Poder Real e constituíram factores primordiais no impedimento da criação de poderes paralelos, dentro dos limites da fronteira portuguesa. Era este o panorama durante a vigência da Monarquia Tradicional.
   Mas os ventos da Europa, devido à mundialização económica da Pátria Lusa, principalmente após os descobrimentos, começaram a soprar mais forte durante a Restauração. E tal acontecia, apesar de D. João IV ter sido aclamado pelos seus súbditos e de terem sido reunidas Cortes em 1641, com os Três Estados, para o novo Rei ver aprovado o seu plano de governação, o natural reforço do exército, bem como a cobrança dos respectivos impostos. Apesar de tal, repito, esse espírito democrático traduzido pela audiência regular dos súbditos, não se conseguiu manter, pois as Modas exigiam o fim da imediação do Rei com o seu Povo, acabando com a tradicional Liberdade.
    Para bem se verificar como na conjectura funcionava a democrática representação do nosso Povo, estiveram presentes, nessas Cortes, procuradores de 87 concelhos e os representantes das Casa de Mesteres, dos 24, dos 12 ou de qualquer outro número, consoante a quantidade de actividades existentes localmente. Enfim, uma exemplar democracia, atendendo às práticas e aos valores vigentes na altura.
     Todavia, as Modas não democráticas irromperam invencíveis. E ficou muito difícil evitar que nos atingissem! Na Europa, usava-se o Absolutismo Esclarecido, o poder dado directamente aos Reis pelo Divino Espírito Santo, e não através do Povo, como preconizavam as Teorias Tomistas e as doutrinas de Francisco Suarez, que sempre por aqui foram seguidas. A Teoria Contractualista do Poder nunca deixou de ser acatada até ao advento do Absolutismo. Os reis eram aclamados e teriam que governar em prol do bem comum, pois tinham recebido o poder, sob a condição tácita de reger bem e “direitamente” Se não governassem em condições, poderiam ser corridos por decisão das Cortes, como aconteceu na Monarquia Tradicional, nomeadamente aos Irmãos mais velhos de D. Afonso III e de D. Pedro II.
      Mas o povo de Lisboa e os alto dignitários da Igreja, bem como os elementos da nobreza alfacinha, sempre os mesmos através da história, diga-se a verdade, começaram a escutar as sereias vindas da Europa, que opinavam com sobranceria, constituir Portugal um péssimo exemplo, pois gastava um dinheirão a trazer às Cortes os representantes do Povo, uns iletrados sem qualificação alguma, bem como os ignaros do clero e da nobreza da província. Era dinheiro inutilmente deitado à rua. Bastava ver o que se passava em Castela e noutros países civilizados. E a gente de Lisboa, como sempre, começou a protestar por se despender tanto dinheiro com imprestáveis Cortes, apontando, com dedo acusador, o progressista figurino europeu. Enfim, estavam a apoiar candidamente o fim dos seus próprios hábitos de liberdade.
     Quase envergonhados e à socapa, não concordando com esta moda tão perversa, remando contra o correctamente político, os nossos reis ainda iam dando audiências ao Povo, mandando abrir as portas do seu paço, algumas vezes por semana, para ouvirem as queixas e a reclamações dos seus vassalos.
Contudo, as modas do Absolutismo Esclarecido eram inexoráveis e varreram do panorama nacional as Cortes. E o Marquês de Pombal deu-lhes a machadada final, não poupando sequer as incómodas audiências!
       A ligação do Rei com o Povo foi cortada em nome da Moda.
    E, através dos tempos, a estratégia governativa estrangeira continuou a fazer sentir os seus efeitos. À moda do Centralismo Despótico Absolutista, seguiu-se a moda do Centralismo Racionalista Iluminado. O Povo continuou a não ser ouvido nem achado para nada e a ser agora dominado por um Parlamento que hipoteticamente dizia representá-lo, mas era apenas constituído por deputados que se digladiavam por interesses políticos partidários, quer pessoais quer de grupo, mandando às malvas a “res pública”. Na altura, acabaram com os juízes nomeados pelo Rei, gente competente, muitas vezes formada em universidades estrangeiras, pois os partidos temiam que as figuras dos magistrados com o seu exemplar comportamento e conhecida sapiência exercessem, do ponto de vista da politicagem da altura, influência nefasta no sentido das votações eleitorais. Mais, a Câmara dos Pares, formada por gente independente dos partidos, perante o protesto veemente de Almeida Garret, viu as suas portas fechadas. Na verdade, era um atentado à Moda Vigente, ter gente independente dos partidos a dar a sua opinião ao poder executivo!!!  E como se tal não bastasse, acabaram imediatamente com os Juízes escolhidos pelos habitantes dos concelhos, conforme estabelecido nos termos dos respectivos Forais.
     Tudo o que fosse manifestação do Poder Local foi banido drasticamente em nome do Liberalismo. O Centralismo acabou mesmo com os Baldios que completavam a economia das populações rurais de cada povoação, passando as terras, invariavelmente, para a mão de particulares, muitas vezes os caciques políticos locais dos partidos com assento nas Cortes. Mas o que se usava lá fora foi respeitado, “benzós Deus!”
…`   Enfim, modas, cujo feitio nos apertava e não iam com a cor da nossa pele e do nosso temperamento, a funcionarem em pleno e a encandear os responsáveis políticos de então. E tinham tanto peso, que os estrangeirados, puseram as suas progressistas ideias, acertadas pelas correntes políticas de outros países, acima do amor à independência portuguesa, festejando e indo aclamar a entrada em Lisboa dos soldados invasores do General Junot. Inacreditável, dirão, mas foi a triste verdade. Autênticos traidores, já se vê, mas imbuídos pelas modas de então que viam imbecilmente a aplicação da legislação napoleónica como uma salvação do país, mesmo à custa da perda da soberania portuguesa.….Pobre Portugal. Ainda hoje estamos a pagar esse estigma da legislação napoleónica.
       Mas não se pense que o seguidismo ficou por aí…!

21 July 2013

"Fica tu pobre que eu emigrei"


Ao fim de anos de PEC's e crises atrás de crises, só uma coisa se pode dizer estar a correr razoavelmente bem em Portugal: as exportações. Mesmo num contexto de crise na Europa e abrandamento nos países em desenvolvimento as coisas têm corrido bastante bem, e quando o PIB Português voltar a crescer falo-à certamente por esta via. Há que dar os parabéns aos empresários e trabalhadores Portugueses que face à falta de procura interna, fizeram a coisa mais racional que podiam ter feito e viraram-se para fora, ajudados, como sublinha o Banco de Portugal no seu relatório de projecções económicas para 2013-13, por alguns ganhos de competitividade recentes (também conhecidos por "sacrifícios").

Este dinamismo parece ser bastante transversal, inclusive em alguns sectores mais tradicionais com as exportações alimentares a crescerem a duplo dígito e as exportações de vinho a baterem recordes, lideradas pela Sogrape e Symington (leia-se a propósito este excelente relatório sobre o setor vinícola do Diário Económico).

Mais recentemente as exportações têm sido empurradas também pela refinação petrolífera, ajudadas por um investimento gigantesco que a Galp fez em Sines.
Lembro-me de aprender na Faculdade que a última vez que Portugal teve uma balança externa positiva (exportações maiores que importações), foi durante a Segunda Guerra Mundial devido à venda de volfrâmio para o esforço de guerra (a ambas as partes envolvidas, diga-se de passagem). Uma balança externa negativa significa viver acima das possibilidades. Portugal anda a viver acima das possibilidades portanto há quase 70 anos... mas está prestes a ter a sua primeira balança externa positiva desde então: projecta-se um excedente de 3% para 2013. Está quase, quase, quase!

Se Portugal se voltar a pôr de pé, é este o caminho, embora como apontado por Ricardo Cabral no magnífico artigo sobre a dívida externa Portuguesa que emitiu na revista XXI, mesmo isto não vai chegar para resolver todos os problemas do País. Mas ajuda, e de que maneira.

Estas boas notícias sobre as exportações tornam ainda mais trágicas todas as mesquinhas manobras políticas por parte de todos os partidos nos últimos dois meses: numa altura em que se começa a vislumbrar a luz ao fundo do túnel, em que os agentes económicos precisam de estabilidade, em que importa mais que nunca que os países que importam os nossos produtos nos vejam como estando no bom caminho, os Partidos e o Presidente se envolvem em tragédias gregas e atrasam (mais uma vez) as reformas necessárias para continuar este admirável comportamento exportador (celeridade da justiça, confiança nas instituições, combate à corrupção, investimento em infra-estrutura para transporte de mercadorias, revisão IRC, etc, etc)

Não deitem tudo a perder. Foi isso mesmo que pensei quando li os comentários no artigo do Público. Como emigrante é mais fácil distanciar-me da política, é mais fácil olhar para os números e para as coisas como deveriam ser e não como os Partidos as pintam. E é mais fácil também dizer aos políticos Portugueses que ou se metem no bom caminho ou arriscam-se a ouvir ainda mais vezes "fica tu pobre que eu emigrei". No fundo, ou o País continua a exportar cada vez mais bens e serviços, ou acaba a exportar cada vez mais pessoas. Decidam.



3 July 2013

Assim morre Portugal


Visto do exterior, tenho pouco interesse em saber de quem é a culpa da tremenda crise política que se passa em Portugal.
O que eu vejo é aquilo que venho a dizer há anos: Portugal é o caso mais claro da veracidade do velho ditado "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".
Em Inglaterra existe um Governo de coligação Conservadores / LibDems em que muito sinceramente é muito mais difícil a coabitação do que os ideologicamente bastante próximos PSD e CDS. Por exemplo os Conservadores são maioritariamente a favor da saída da UE e os LibDems são pró-Europa, um dos assuntos mais divisivos do País. Os LibDems são a favor do casamento e adoção homossexuais, a maior parte dos Conservadores não. Economicamente não se conseguem entender, os Conservadores são a favor da disciplina orçamental, os LibDems são muito mais abertos ao investimento social do estado.
E no entanto o Governo Inglês aguenta-se, porque os políticos aqui ainda têm uma réstia de sentido de responsabilidade e de missão. Uma legislatura é para cumprir. Um Governo é para Governar. E a falar os lideres aprendem a respeitar-se, com serenidade resolvem-se as diferenças, com mais ou menos paciência se chega a um mínimo de consenso. 
Mas respeito, serenidade e paciência nunca foram características dos políticos Portugueses, e agora (mais uma vez) se paga o preço.

14 June 2013

E, de repente, no meio do Atacama...


Deserto do Atacama, praticamente no meio do nada, 2000 metros de altitude, 30ºC (ou era o que parecia), sol escaldante. No meio de uma excursão pelo deserto - sim, sim, que ninguém pense que neste fim-de-semana de pausa, apertado entre 2 semanas demoníacas, ia haver tempo para mochila, GPS, estudar mapas e trilhos. Não, tinha que ser assim - autocarro, gringos, uns quantos chilenos de Santiago, e pronto. Ah! E máquina fotográfico em punho, para tentar (parcamente) captar algumas das mais belas paisagens que já vi. Mas, literalmente, no meio do nada (ou quase, vá!).

E, de repente, no meio desse nada, "Achas que podemos pedir aquele senhor para nos tirar uma fotografia?". Assim, como o único som no meio do silêncio das línguas estrangeiras que me rodeavam. Virei-me. Um casal de meia idade, olhar entre a paisagem, a máquina fotográfica e a quem iam pedir a fotografia. Decidi que também os ia surpreender. "Se quiserem, posso tirar a foto". Ficaram boquiabertos.

Ele era português, ela, na realidade, chinesa (mas com um óptimo português). Viviam no Luxemburgo e estavam a fazer uma viagem (e que viagem!!) que tinha começado no Brasil e tinha continuado pela Patagónia argentina e chilena, Santiago e Atacama e que os ia conduzir ainda à Bolívia e Perú. Já não ouviam português com o nosso sotaque desde que tinham saído do Brasil. E ficámos à conversa. Afinal, o que é que dois portugueses fazem quando se encontram?

Para além dos temas habituais, um emergiu. A língua. O senhor era da minha opinião, que não valorizamos a força global da nossa língua. Que apesar de os brasileiros serem provavelmente o maior grupo turístico no Chile e Argentina, ainda era mais fácil encontrar indicações em francês do que na nossa língua (como acontecia no hotel em que estava, em San Pedro). Que nos esquecemos que somos 250 milhões no Mundo a falar a mesma língua, a 5ª mais falada do Mundo, e uma das poucas que é nativa em quatro continentes. Que é das poucas línguas globais - em dispersão continental, só o inglês é mais falado que o português. Que, por sermos flexíveis, nos tentamos sempre ajustar às outras línguas - e, não me levem a mal, eu acho que essa flexibilidade é uma boa qualidade, mas também penso que devíamos sempre primeiro fazer um pouco de finca-pé em sermos atendidos na nossa língua. Que prestamos demasiado atenção a se o sotaque ou a forma como está escrito está mais próximo do português europeu que do brasileiro - e, porra, para que é que isso importa se realmente nos conseguimos todos entender na mesma língua! (vá, pronto, com uns poucos mal-entendidos aqui e ali). Que atrás da língua e da cultura comum há oportunidades de negócios que nos chegam pela proximidade que é inata a quem se entende "de ouvido". Prestamos demasiada atenção aos nossos bairrismos e esquecemos o privilégio que é cruzar o Atlântico, meia África, o Índico e a Indonésia, e podermos falar e ouvir a nossa língua. Ali, perdido no meio do Atacama, acreditem que foi mesmo uma boa surpresa!


31 March 2013

E como Portugal é visto como um exemplo de sucesso no combate ao abuso de estupefacientes


Portugal tem sido apontado como um exemplo nos últimos anos, numa área (para muitos de nós) insuspeita. Mas a verdade é que, a (corajosa) política que Portugal decidiu seguir há cerca de 15 anos, para combater o abuso e tráfico de droga, teve resultados impressionantes, e é frequentemente apontada como um exemplo a seguir - nomeadamente, no Reino Unido, onde o debate tem sido frequente nos últimos tempos.

Não sei se se lembram, mas, há 20 anos, Portugal tinha um problema sério de consumo de drogas - nomeadamente drogas duras e complicadas como a heroína. Na Grande Lisboa, locais como o Casal Ventoso, as Marianas (Carcavelos) e outros, eram sinónimo de quase cenários de guerra, em que tóxico-dependentes desesperados se injectavam ao ar livre - e, apesar do tom dramático com que escrevi esta última frase, as imagens da época são uma prova factual deste facto. O abuso de drogas era um problema claro, com os números do tráfico e prisões relacionadas a subirem constantemente.

Foi nessa altura que se decidiu por uma abordagem completamente diferente ao problema. Em vez do progressivo endurecimento do combate (que não tinha tido resultado nos 20 anos anteriores), decidiu-se... descriminalizar! Exactamente! Descriminalizou-se a posse para consumo. Quem fosse apanhado com uma quantidade pequena de droga não era preso - era considerado um doente crónico que precisava de tratamento, e presente a uma comissão que determinava se deveria ser multado, condenado a serviço comunitário ou encaminhado para tratamento.

Apesar do receio da altura, os resultados foram francamente positivos. O consumo de marijuana (pelo menos uma vez na vida) caiu para 10% (muito abaixo de qualquer outro país ocidental), o de heroína para 1,8% e a utilização de drogas no secundário para 10.6%. Ao mesmo tempo, o número de infecções por VIH em utilizadores de estupefacientes foi também reduzido em 17% (recorde-se que se iniciou também a campanha de troca de seringas) e as mortes por utilização de drogas duras caiu para metade. 

É por estes resultados que Portugal é apontado internacionalmente como um exemplo a seguir. Porque desafiámos o dogma, literalmente, quebrámos o paradigma, passámos a distinguir entre traficantes e utilizadores. E, com isso, pusemos travão a um autêntico flagelo. Por isso, países como o Reino Unido (em que o Richard Branson frequentemente aponta Portugal como o exemplo a seguir), Noruega e Brasil olham frequentemente para o caso português, como um exemplo de inovação e bons resultados neste tema tão complicado.

28 January 2012

Euro cepticismo visto de Londres

Em Portugal poucos questionam a presença de Portugal na União Europeia, apesar dos anos do Euro terem sidos dos piores de sempre em termos de crescimento económico na história da nação. Em Inglaterra é justamente o contrário, são mais aqueles contra o projecto Europeu do que a favor.

Há quem ache que o fenómeno é recente, ou então que vem dos tempos da Senhora Thatcher. É por isso interessante recordar que foi Thatcher quem fez campanha pelo 'Sim' à União Europeia aquando do referendo de 1975 em que 67% dos Ingleses se revelaram a favor da continuidade do UK na EU, nessa altura eram os trabalhistas que eram contra por acharem a Europa 'demasiado capitalista'. Uma ironia realçada pelo subsequente histórico discurso do "I want my money back" de Thatcher em 1988.

Para quem quiser saber mais sobre as origens da turbulenta relação do UK com a Europa, o The Guardian tinha ontem um artigo impressionante pela forma como descreve 8500 anos de euro-cepticismo em poucos parágrafos. Vale a pena ler:

http://www.guardian.co.uk/world/2012/jan/26/britain-proud-home-euroscepticism


5 January 2012

Portugal Visto de Fora na TSF



Parece que o nosso conceito foi importado pela Rádio Notícias!

http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=918315&audio_id=893314

Numa altura em que mais de 100 mil Portugueses emigraram no último ano, quem sabe por vontade de acatarem a sugestão do primeiro-ministro, faz cada vez mais sentido que se criem conteúdos destes, as lições de quem está fora podem ser imensamente valiosas para quem decidiu ficar.

21 December 2011

Queridos senhores e senhoras que vão fazer greve amanhã:

eu compreendo que estejam zangados e façam greve. A vida não corre sempre de feição e não trabalhar um dia sabe bem e, na verdade, até se pode aproveitar para comprar presentes de Natal em falta. Também é bom mostrar quem é que manda aqui. Parar uma cidade no Natal tem sempre impacto.
Mas eu comprei o meu bilhete de avião em Julho. Há cinco meses que estou a planear ver a minha família. Há cinco meses ninguém me disse que ia haver uma greve.
O ano passado foi a neve e a falta de anticongelante. Não foi culpa de ninguém, pronto, faltou. É sempre difícil prever quando é que vai nevar mais. Por exemplo, até podia nevar em Agosto. Nevar em Dezembro é pouco comum, certo? Para quê ter reservas de anticongelante?
No ano anterior foi porque nevou muito e não havia máquinas para limpar a neve. Mas o ano passado já havia máquinas, mas não havia anticongelante. Eu nem sabia que era preciso anticongelante. Agora já sei.
Este ano quase não nevou. Mas há máquinas e há anticongelante. Não há é ninguém para trabalhar.
Tudo bem, meus queridos senhores e senhoras, eu respeito a vossa greve.
Como o ano passado respeitei a falta de anticongelante.
E no ano anterior a inesperada neve sem máquinas para a limpar em Dezembro.
O que eu gostava era também de me sentir respeitada. Gostava que pensassem nas famílias que estão fora o ano todo e que planeiam viajar com um ano de antecedência. Nos que vão dormir nos aeroportos e nas estações de comboio. Nos que juntaram dinheiro o ano todo para fazer uma viagem de Natal em família.
Queridos senhores e senhoras que vão fazer greve amanhã: se não se importarem eu preferia que fossem trabalhar. É que eu gostava mesmo, mesmo de ir para casa. Mesmo.

http://www.lesoir.be/actualite/belgique/2011-12-20/qui-fera-greve-jeudi-885079.php

10 December 2011

O dia em que a UE abandonou o UK


Uma das primeiras histórias que me contaram quando vim para Londres para me explicarem a relação do UK com a Europa foi a seguinte: "Há uns anos o Eurostar, o comboio que une Londres a Paris e Bruxelas, teve de parar indefinidamente devido a problemas técnicos no túnel da Mancha. As manchetes dos jornais britânicos no dia seguinte eram elucidativas: "A Europa perdeu o acesso ao UK!".
Hoje, depois de David Cameron ter tomado uma decisão histórica de contrariar os restantes 26 países da União Europeia ao rejeitar um novo tratado para proteger o seu sistema bancário, o The Independent tem a seguinte manchete: "The EU leaves Britain". O tablóide "The Sun" é mais eloquente e anuncia "Up Eurs". O Daily Express canta vitória e anuncia que a sua "cruzada" pela saída do UK da Europa está perto de sair vitoriosa.
Mas a situação é mais grave do que parece: no meio do seu triunfalismo há vozes que discordam, nomeadamente dos representantes dos próprios bancos que Cameron tentou salvar. O Financial Times não estava particularmente entusiasmado, até porque os economistas são capazes de olhar para além do curto prazo e prever que esta decisão pode ser a bola de neve que desencadeia uma avalanche de proporções épicas, podendo eventualmente culminar na saída do UK da União Europeia. Os jornais um pouco por toda a Europa parecem concordar:


Deixo para comentadores mais videntes do que eu para tentar decidir se o UK decidiu bem ou mal. Os ingleses protegem os seus interesses e a Europa não quer estar sempre à espera que os ingleses se decidam. Mas como Português (e Europeu) a morar em Londres preocupam-me as possíveis implicações e por isso vou tomar precauções, entre elas a de pedir um passaporte inglês para o meu filho "just in case". Preocupa-me também o futuro da economia inglesa se uma UE hostil começar a tomar decisões que a prejudiquem. Preocupa-me que a Inglaterra possa estar a entrar numa fase em que o seu povo se torna mais xenofóbico e hostil a estrangeiros. E fascina-me que os ingleses tenham preferido continuar a proteger os bancos quando foram estes os grandes responsáveis pela crise.
Mas acima de tudo como emigrante o meu grande problema é que se um dia me disserem a frase favorita dos xenófobos "volta para a tua terra" o país para onde teria de voltar está num estado miserável. Não seria fácil a escolha.

20 November 2011

Combatentes do Ultramar


A forma como os Antigos Combatentes da Guerra de Ultramar foram, e continuam a ser, tratados, continua a ser um triste retrato de Portugal. Note-se que não sou antigo combatente e nasci em 1968, pelo que, creio, ninguém me pode acusar de procurar vantagens com este assunto... A não ser o de sonhar com o respeito pelos filhos de Portugal e a decência para quem nos serviu e tudo deu.

Na verdade, considerando que esta Guerra, de 1961 a 1974, mobilizou cerca de um milhão de filhos, irmãos, maridos e pais de Portugal, que cerca de 9’000 perderam a vida a lutar por Portugal, que há um enorme número vivo a merecer reconhecimento e que há muitos, ainda, a sofrer as consequências de uma Guerra de Portugal, não posso deixar de pensar como estes homens (e mulheres) seriam tratados nos Estados Unidos (onde vivo), no Reino Unido ou em França (onde vivi). E Antigos Combatentes com deficiências permanentes (quer físicas ou psicológicas) contam-se mais de 15’000... Como não acarinhamos estes homens?


Monumento aos Combatentes de Ultramar, com os nomes dos cerca de 9000 soldados mortos na parede do fundo.

E, nem falo dos Portugueses Africanos que também serviram e que nem sequer entram para as estatísticas da Guerra do Ultramar como Portugueses... Homens e mulheres que serviram Portugal e que, por certo, ainda tiveram um fim violento por o terem feito (só na Guiné, estima-se que tenham sido assassinados sumariamente milhares de ex-combatentes - na ordem dos onze mil).



Uma das coisas mais limpas que existe nos Estados Unidos é o reconhecimento ao Antigo Combatente, que não é feito de forma belicista mas de forma respeitadora. As escolas visitam os monumentos, não para aprender as razões que levaram a lutar as guerras nem o poder dos Estados Unidos mas, para reconhecer quem se sacrificou. As escolas e as famílias visitam os monumentos para perceber o impacto nas comunidades e nas vidas destes soldados que, mais do que tudo, eram pessoas... Quando os escuteiros colocam, todos os anos, um ramo em cada campa de um Antigo Combatente, em todos os cemitérios do país, não se promove política mas, isso sim, promove-se um simples agradecimento. No mesmo dia, a famílias inteiras vão aos cemitérios e até fazem piqueniques nos relvados das campas, para estarem em família, com todos. As crianças aprendem que as guerras custaram e custam caro e que houve boa gente que se sacrificou por elas, mesmo antes de terem nascido. Como diria um Antigo Combatente que muito estimo e respeito - “Só assim se pode incutir nos mais novos o sentimento de que pertencem a uma nação, com as suas vitórias e as suas derrotas, os seus momentos de glória e os seus períodos de desânimo. [...] Não se pode compreender um país se não se conhecer o seu passado, com tudo o que teve de bom e de menos bom. E neste aspecto, apesar da sua história ser curta, a América dá lições ao mundo, como ficou bem patente no modo como fizeram a catarse da guerra do Vietnam.”





Em Portugal tal é impensável. Nas escolas tudo é ignorado ou “revisto”. No dia a dia, o Português nem quer saber - os nossos heróis nem sequer são de louvar e, muito menos, para agradecer pois, dá trabalho e tira os olhos do umbigo. Não temos campas dos nossos soldados de Ultramar para visitar no dia 1 de Novembro e lembrar (é que durante o Estado Novo deixavam-se os mortos em África, longe das famílias e dos olhos da população, tirando o direito de voltar ao soldado). Nem sequer um Código dos Inválidos, como o de 1929 pensado para os Combatentes da Primeira Grande Guerra, foi feito antes ou depois do 25 de Abril. Depois do 25 de Abril, falar do assunto garantia a classificação de “reacionário” e, durante estes anos todos, o “Joaquim”, que não dorme, e o “Rui”, que não anda, esconderam-se nos quartos ou nos hospitais e não foram protegidos. Tal como eles, mais de 15’000 homens só puderam contar com o amor da família que, numa realidade diferente, tinha dificuldade em compreender o que passaram. Por fim, nem falo do que os sucessivos governos fizeram para não dar aos Antigos Combatentes benesses que, para mim e para os países civilizados, são básicas. E, até o monumento nacional aos Antigos Combatentes do Ultramar, em Lisboa, que foi construído por oito associações, não teve, sequer, uma comissão de honra que envolvesse os órgãos de soberania. Tal, porque o Presidente da República da altura, Dr. Mário Soares, recusou fazer parte de tal “porque era contra a Guerra de Ultramar” (!!!)... Como se os Antigos Combatentes tivessem culpa da Guerra e, claro, não lhes sendo reconhecido o serviço prestado a Portugal.

Reconheço que há melhorias : há mais homenagens, monumentos, livros não políticos e programas de televisão (a RTP tem vindo a fazer várias séries com o Joaquim Furtado) que permitem que os mais novos saibam o que se passou e se lembre o Combatente per se. Todavia, só no ano passado os Antigos Combatentes puderam desfilar no 10 de Junho, em Faro, pela primeira vez (“só” esperaram 36 anos)... Enfim, não chega. Há que fazer um mea culpa generalizado pela forma como os Antigos Combatentes foram e são tratados. Seria óptimo o nosso Estado liderar tal esforço (dado que foi o maior interessado nos serviços prestados) mas, já aprendemos, nunca o vai fazer. Por isso, tem que ser a população a fazê-lo.

Este foi o meu último post, de sete, sobre os Antigos Combatentes. Acho que, mais do que os Governos Portugueses podem fazer por quem os serviu - pois nos últimos 100 anos os Governos Portugueses não cuidaram dos seus e de quem os serviu (espero ter demonstrado) – interessa o que nós, Portugueses, podem fazer para honrar o melhor do nosso País, que são os Antigos Combatentes.











Fotografias do blog Ultramar e da página Guerra Colonial Portuguesa 1961-1974.
Filme dos Antigos Combatentes no 10 de Junho de 2010: